Opinião: O sumiço da música brasileira nas rádios Pop & Rock

Cada nova semana que passo pelos sites das emissoras de rádio do país para atualização dos playlists, deparo-me com uma realidade cada vez mais inevitável: o domínio da música estrangeira na programação das rádios pop/rock (ou jovem, como alguns preferem dizer). No último levantamento (edição 583) fiz uma rápida conta e constatei o placar de 71 x 29 para a música estrangeira, considerando as 100 primeiras colocadas! De há muito, a música nacional não vence nesse tipo de programação, mas há alguns poucos anos a diferença não era tão significativa.

Se considerarmos que 3 músicas de artistas nacionais são cantadas em inglês ("Worth It" da Wanessa, "Adjustable" do John Kip e "Power Of Love" do DJ Tom Hopkins), temos um placar ainda maior 74 x 26.

O mercado pop/rock do Brasil se apequenou de tal forma que fica difícil fazer uma previsão otimista para esta nova década. Cada vez mais as emissoras terão que se esforçar para manter uma identidade brasileira (e pop), diante a quase ausente produção/investimento na música pop/rock, considerando que o mercado só tem olhos, ultimamente, para o sertanejo universitário e variantes.

Essas "pandemias musicais" acontecem em certas épocas e, acabam, por muitas vezes, contaminando a programação das rádios de "plástica" pop/rock. Já aconteceu no final dos 80, quando as músicas melosas dominaram as programações nas vozes de Dalto, Fafá de Belém, Fagner, Roupa Nova, Sandra de Sá, Tim Maia, ou mesmo o axé jurássico nas vozes de Luiz Caldas e Sarajane. Aconteceu de novo em 1992, com a explosão de "O canto da cidade" da Daniela Mercury - momento que o axé passou a frequentar todos os dials que se possa imaginar, com Banda Beijo, Banda Cheiro de Amor, Banda Eva, Chiclete com Banana, etc. Pode-se considerar que, desde Luiz Caldas, o axé vem frequentando as programações das emissoras pop/rock, com menor ou maior intensidade. Daí, podemos concluir que o Sertanejo Universitário trilha o mesmo caminho, ou seja, inevitavelmente integrará os playlists das rádios pop/rock, mesmo que por um seleto grupo de duplas e de músicas "menos caipira" que as tradicionais.

Nesse sentido, esses e outros movimentos musicais não tem impedido as rádios pop/rock de manterem suas identidades. Algumas vezes são ondas que passam, outras, movimentos que se estabelecem. Resta saber quando aderir um novo movimento sem que isso cause "mal estar" nos ouvintes tradicionais da emissora. Mas também não se pode ignorar o objetivo comercial, porque rádio não é obra de caridade (salvo exceções). Precisa faturar.

Por fim, não há fórmulas de aplicação linear para as emissoras pop/rock. Cada uma tem que saber o público que o seu sinal atinge para poder trabalhar a programação de forma a conquistar a maior parcela possível de ouvintes. Copiar a outra só porque é grande também não é a solução. Audiência se conquista com bons profissionais, plástica impecável e inovação. Se o público gosta da emissora e tem respeito pela sua tradição não vai se incomodar caso sejam inseridas doses homeopáticas de músicas comumente desconsideradas do universo pop.

Outras observações sobre a última edição do Playlist Pop& Cia.:

1) O NX Zero domina a lista com 3 músicas e + 1 solo do Di Ferrero.
2) Capital Inicial, Charlie Brown Jr., Jota Quest e Skank ainda sobrevivem nas rádios.
3) Pitty, na minha avaliação, o que de melhor pintou no rock nacional na década de 00 (zero-zero), se mantém nos hit-parades.
4) As bandas gaúchas ainda tem boa representação no rock nacional (se assim pode-se dizer...), com Chimarruts, Fresno, Reação em Cadeia e o projeto Pouca Vogal (Humberto Gessinger do Engenheiros + Leindecker do Cidadão Quem).
5) Das 29 músicas, 5 são de artistas que estão na busca do seu lugar ao sol, com índices de execução bem pequenos. São eles: In Box, John Kip, Manu Gavassi, O Rodo e Sabonetes. Poderia incluir Strike nessa relação, mas, radiofonicamente falando, já são bem mais conhecidos do público.
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